Miscelânea (V)

Ainda se via vivendo coisas que desejava já terem sido deixadas pra trás. Já havia deixado. E no entanto, elas insistiam em voltar, além do seu alcance. Não precisava, não queria, não sentia. "Um homem que fica para trás é deixado para trás" - regra de ouro dos piratas. Cansava se ver no meio das histórias das consequências, mesmo quando não havia mais afinidades e carências.
Nem oceanos inteiros são capazes de resolver certas coisas. Nunca desejou tanto que tivesse sido o primeiro. Em tudo, desde o mais singelo olhar, o mais inocente sorriso. Não se importava que era resultado de todo o resto. Quis ser uma tábula rasa, só esperando pra ser preenchida.
Seria muito fácil culpar o outro. Como sempre quisera. Sim, seria fácil, se não se sentisse quase igualmente responsável. Talvez fosse mesmo muito irresponsável. Sentia muita vontade de odiar. E continuava escolhendo não fazê-lo. Só mais uma prova do que seria. Jamais seria. Nunca foi, nunca deveria ter sido. Já não sabia mais se não se arrependia.
Tem horas que não há nada que se possa fazer. Nada angustiava mais. Mas já sabia que não precisava abraçar o mundo, tivesse ele o tamanho que tivesse. Não era mais regida pelo medo, sabia que era muito mais do que o saldo entre os erros e acertos. Sentia-se leve, como nunca antes. Sendo exatamente quem era. E acreditanto que, mesmo com todas as falhas, era exatamente quem esperava que fosse.

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