Adiante

O mundo seguiu adiante.
Lera essa frase tantas vezes nos últimos dias que esqueceu de perceber que o seu próprio mundo seguira em frente. Não foi a única a não perceber isso logo de cara, mas foi a mais rápida.
Os desejos e pensamentos tão conflitantes e paradoxais em si mesmos que desistiu de pensar.
Era mais simples aceitar as explicações mais fáceis; agora era tudo o que conseguia aceitar.
Já não sabia mais, não queria mais, não sabia se não queria.

Queria o produto final, mas algumas vezes esperava que os subprodutos fossem a salvação. Conscientemente não se permitia esperar isso. Mas sabia que no inconsciente essa esperança martelava furiosamente.

Era hora de cortar esse cordão, seguir em frente, seguir adiante. Continuar cometendo os mesmos erros não levaria ninguém a lugar nenhum. A mente sabia disso, o coração ainda se esforçava em acreditar.

A imaginação sempre fora mais rápida que a lógica. O tempo entre a lógica alcançá-la era mais do que suficiente pra machucar. E mesmo que se impedisse de imaginar, não tinha como parar os sonhos e esses traziam à consciência coisas que preferia que ficassem enterradas na inconsciência.

O mundo seguira adiante.
Já era passada a hora de seguir também.
Encontraria sua própria chave, o segredo é a forma de s na ponta, e a porta se abriria.

Já não confiava, já não acreditava.
Não queria nunca mais acreditar.

Miscelânea (IX)

Quase sempre, quase sem querer.
Às vezes mais, às vezes menos; quanto mais, menos.

O tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta agora tinha dificuldades em se manter.
A Lon.ga.ni.mi.da.de não dava as caras há muito tempo.

Surpresas atrás de surpresas, mas já não fazia tanta diferença.
Quase nunca, quase sem querer.

Não sabia e nem queria saber. Deixe que venha, deixe acontecer.
Dos pesadelos e devaneios não se livraria tão fácil.
Deixe ser, deixe estar.

Impossível é o que é.
Mas vai ter que ser possível.
Quase sempre, mais do que por querer.