"Minha avó está morrendo". Foi o que eu disse a um amigo, no início do meu primeiro ano de faculdade. Eu a havia visitado e a verdade me encarou sem dó. Ele, prático como sempre e quase invariavelmente correto, só me respondeu o seguinte: "E você pode ficar aí desse jeito, ou pode aceitar isso, se preparar e aproveitar o tempo que você ainda tem com ela".
Isso foi há quase dois anos e, nesse meio tempo, segui o conselho do meu amigo. Cada visita era como se fosse a última e, portanto, especial. Por mais impactante que tenha sido vê-la deitada, quieta, não é essa imagem que guardarei dela, porque aquela não era a minha avó.
A verdadeira Dona Yolanda era a que nos esperava chegar preparando macarrão caseiro, com a touca de crochê cinza e o avental. Era a que se sentava comigo na mesa do café, contando as mesmas histórias sobre a infância do meu pai. Era a que revirava a casa, na eterna busca pela chave do portão, quando o molho estava dependurado no cós da saia. Era a mandona, teimosa, espanhola brava e coração de ouro, Dona Yolanda.
Então, quando pensar nela, vai ser dessas imagens que vou me lembrar. E o que me alegra é saber que ontem, as minhas últimas palavras pra ela não foram "adeus", mas sim "até logo".