Nós para nós mesmos
Muito provavelmente, essa seja a parte mais difícil de assimilar. Afinal, você deve estar pensando: "Como posso ser um enigma para mim mesmo??". É, eu sei. No entanto, essa é uma verdade. Temos o hábito de pensar que somos ou estamos completos, que nos conhecemos melhor do que ninguém. Mas podemos estar incrivelmente equivocados sobre isso. E só somos capazes de perceber nossos "buracos", nossas peças faltantes quando deixamos que outras pessoas também o façam. O que quero dizer é que a melhor maneira de enxergarmos nossas falhas é deixando que outros as vejam. Não, não podemos finalizar nosso jogo sozinhos. Aliás, não chegamos a finaliza-lo. Será sempre um buscar de novas peças, uma busca em completar os buracos, em poder enchergar a imagem que formamos...
Nós para as outras pessoas
Do mesmo jeito que vamos montando, por assim dizer, as pessoas, é evidente que elas também vão coletando e encaixando nossas pecinhas. Parece um tanto estranho pensar sobre isso, mas as pessoas nos observam. Mesmo sem que elas mesmas percebam, estão atentas e vão absorver aquilo que falamos e fazemos. O engraçado é que elas não vão guardar exatamente o mesmo que nós guardamos. Numa conversa, por exemplo. Eu posso me fixar em certa parte, aquilo fica martelando na minha cabeça; o que não quer dizer, absolutamente, que meu interlocutor teve as mesmas impressões e se fixou nos mesmos pontos. Legal, não? Por isso, não temos muito controle sobre as peças que fornecemos: podemos pensar que foi uma coisa, quando na verdade, foi outra, às vezes completamente oposta - não temos portanto, como saber em que ponto do quebra-cabeça nosso amigo se encontra. E mais: não é difícil que cada um que conhecemos, tenha uma imagem diferente do nosso jogo...
As pessoas para nós
Quando conhecemos alguém, tudo o que temos é uma visão de relance de sua caixa. Sabemos que se trataria de uma paisagem, uma natureza morta ou a foto de um animal. Mas somente isso. Aos poucos, conversando, nos aproximando, vamos conseguindo montar as bordas, recebemos peças que aos poucos vão se encaixando. Não raramente, vemos grandes espaços em branco, ou peças que não se encaixam em lugar algum - elas ficam de lado, esperando a hora de serem úteis. Claro que algumas peças são propositadamente retidas, seja temporária ou definitivamente; geralmente essas são as peças-chave para compreendermos as pessoas com quem nos relacionamos. Enfim, é preciso uma boa dose de paciência, tato e sensibilidade se quisermos ver a figura a ser montada. E a compreensão de que, mesmo depois de muito tempo, ainda existirão vazios e peças faltantes...
A vida é sim, feita de pequenas alegrias. Coisas absurdamente simples que podem mudar o dia de alguém. Um sorriso, um olhar... Pra mim, por exemplo, comprar um simples brigadeiro na saída do refeitório, depois do almoço, me faz muito feliz. Fico com aquela expressão que chamo de "cara de felicidade extrema e incontrolável".
Tem gente que não se conforma com isso. Que diz que eu deveria me alegrar com coisas grandes, pensar grande. Ok, ok. Grandeza é legal. Mas nem sempre temos coisas grandes para aproveitar. Faço o que então? Fico de cara amarrada até que se alcance a paz mundial ou algo assim??
Não, não. Me recuso. Me achem boba, supérflua ou o que for. Vou me manter contente, sorrindo. Viver assim é muito melhor; faz bem. Afinal, a vida dá-se em apreciar a grandeza da pequenez de certas coisas. Desfrute os pequenos momentos da vida...
Além do mais, se não conseguirmos defrutar dessas alegrias, como estaremos sensíveis a perceber e aproveitar as surpresas do nosso dia-a-dia?